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O Castigo

| quinta-feira, 9 de abril de 2009 | |
O homem menos afortunado sofria os horrores da tortura sentado na cadeira. Os carrascos não tinham feito um bom trabalho na instalação eléctrica, e, sem saberem se seria algum cabo mal ligado ou pura inépcia deles próprios, em vez da descarga fatal, tudo o que conseguiam eram meras aplicações de 220 volts.
Um dos seus companheiros de infortúnio, sentado a seu lado, meteu conversa:
-Ouve lá pá, tiveste a oportunidade de fugir e escolheste ficar porquê? És burro?
O homem nada respondeu, apenas soltou um esgar depois de mais uma descarga eléctrica. O companheiro do lado oposto sentiu a sua dôr e interviu:
-Deixa o rapaz descansado pá, não vês que já lhe chagaram os cornos o suficiente.
O homem desafortunado apreciou o gesto de compaixão e convidou o outro para jantar em casa do seu pai nessa mesma noite.
-Achas que vamos sair daqui a tempo? O teu pai não se chateia se chegarmos atrasados?
Realmente, pensava o homem, por aquele andar nunca mais se despachavam, mas o que dizer ao pai? Apenas a verdade, eles não sabiam o que faziam.
Ao fim de algum tempo (depois de mudarem de gerador), chegou finalmente a descarga fatal, a libertadora, que enviou de imediato, os três condenados para novas pastagens. O público explodiu numa imensa ovação e os aplausos ecoaram por séculos. Nessa noite, ninguém jantou com o pai de ninguém, embora no ar pairasse um cheiro intenso a carne queimada.


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