Páginas

À Chuva

| terça-feira, 20 de outubro de 2009 | |


O homem gostava de andar à chuva e pronto. Era uma mania como outra qualquer. Quando chovia apressava-se a sair de casa e fazer longos passeios. Gostava de tudo nos dias chuvosos, do cinzento do céu, do estrondear dos trovões e dos flashes dos relâmpagos. Era como se Deus estivesse a tirar-lhe uma fotografia, por isso sorria sempre para o céu dispondo-se numa pose mais ou menos teatral. Enquanto as pessoas corriam a abrigar-se nas arcadas dos prédios, ele deslizava pelo passeio e aterrava propositadamente nas poças de água, outro dos seus prazeres infantis, o de chapinhar na água das poças lamacentas. Quando chovia sentia-se o rei da cidade. Agradava-lhe que o seu reino fosse obscuro e que desagradasse ao resto da populaça, a felicidade das pessoas irritava-o. Chamavam-lhe maluquinho mas ele não se importava, aproveitava a dica para cantar: ...Mas louco é quem me diz, e não é feliz...

2 comentários:

calamity Says:
20 de outubro de 2009 às 19:53

Uns apanham chuva. E não a seguram.
Outros andam sob a chuva e ela não os apanha...simplesmente porque nada do que perseguimos nos pode apanhar - se já estamos a correr atrás, não é?
A loucura é uma capa protectora até da chuva. Acho eu.

El Matador Says:
20 de outubro de 2009 às 20:03

Da chuva e de tudo o resto :)