Páginas

O Faroleiro

| terça-feira, 3 de novembro de 2009 | |
Olhava o mar e esperava: algo ou alguém, não sabia. Ela, sempre optimista discorria sobre as inúmeras hipóteses de saída para uma situação que não era de todo desesperante - incentivava-o. Era uma constante das suas alucinações, reflectia ele, eram sempre femininas e optimistas. Há muito que desistira de lhes dar ouvidos. Sentia-se bem, em forma, o isolamento ainda não lhe afectara as articulações, a gravidade era a mesma em toda a parte. Mas a vontade era a de se deixar estar, naquela ilha junto ao farol, a ver o mar e esperar. «Vá lá pá!!!» exortava-o ela nas suas conversas imaginárias «parte uns pauzinhos, faz uma fogueira...». Ele respondia com o silêncio de quem já se habituou a não falar, para quem uma conversa não passava de ruído de fundo, um ruído que vai e vem com a marulhada. À distancia, para quem o olhasse através dum monóculo, numa tentativa vã de o descobrir, parecia um ser decente, afável talvez, mas quem o observasse mais de perto e com atenção logo daria com o sinal que alertava: produto defeituoso.
Subiu ao farol e maravilhou-se com a violência das vagas. A fúria da natureza era o seu espectáculo favorito; os trovões, as tempestades, os cataclismos.
Gostava de pensar que tinha nascido para faroleiro, a profissão tinha as suas medidas exactas: a solidão e o afastamento. A luz guiava-os a todos e ele controlava a luz.

2 comentários:

calamity Says:
3 de novembro de 2009 às 21:50

- Como está, passou bem? O meu nome é Cal, e o seu?
- Bem, muito obrigada. Costumavam chamar-me aquele cujo nome não deve ser pronunciado em vão, mas agora graças a inúmeras campanhas de marketing, sinta-se livre para me tratar pelo nome próprio: Deus.
Prazer em conhecê-la. Cuidado com as rochas.

El Matador Says:
3 de novembro de 2009 às 22:04

Sorrisos!